O chocolate é, sem dúvida, um dos prazeres mais universais e amados do planeta. Seja em uma simples barra, em um bolo de festa ou em um brigadeiro, sua presença nos conecta a momentos de alegria e conforto. Mas antes de chegar à nossa mesa, o chocolate passa por uma longa jornada que começa com um fruto especial: o cacau.
Embora o cacau tenha sua origem na Amazônia, um dos berços da biodiversidade mundial, a história de sua produção global nos leva a um lugar surpreendente. A maioria de nós, ao pensar em cacau, associa-o imediatamente à América Latina, onde países como Brasil e Equador têm uma longa e rica tradição no cultivo. No entanto, o mapa da produção mundial de cacau é dominado por um gigante de outro continente.
Este artigo vai desvendar o mistério de qual é o país que mais produz cacau para chocolate no mundo, explorar os desafios que essa indústria enfrenta, especialmente com as mudanças climáticas, e mostrar como países sul-americanos estão se adaptando e crescendo neste mercado dinâmico. Prepare-se para uma viagem fascinante que irá mudar sua perspectiva sobre a origem do seu doce favorito.
A Liderança Incontestável da África Ocidental

Apesar da forte herança latino-americana, o reinado do cacau pertence inequivocamente à África. Há anos, a liderança global é mantida por um país que se tornou sinônimo de cacau: a Costa do Marfim.
Costa do Marfim: O Gigante do Cacau
Localizada na África Ocidental, a Costa do Marfim é o epicentro da produção de cacau. Seus números são impressionantes: o país produz cerca de 1,85 milhão de toneladas de cacau por ano, o que representa aproximadamente 38% de toda a produção mundial, segundo a Organização Internacional do Cacau (ICCO).
Essa dominância não se limita apenas ao cacau bruto. A Costa do Marfim também é um player importante na produção de derivados, como amêndoas, pasta e manteiga de cacau. No entanto, mesmo o gigante enfrenta ventos contrários. O país tem visto sua produção oscilar, com uma queda notável em relação a 2023, quando produziu cerca de 2,33 milhões de toneladas.
Esta redução é um reflexo direto de problemas climáticos e agrícolas, que afetam a estabilidade da safra e, consequentemente, o mercado global. A agência internacional de notícias Reuters já alertou que o país enfrentou “duas safras consecutivas abaixo da média e pode sofrer outra queda de 10% na próxima temporada 2025/26”.
Gana: O Segundo Maior Produtor
Ao lado da Costa do Marfim, outro país africano se destaca: Gana. O segundo maior produtor global de cacau, Gana alcançou cerca de 600 mil toneladas por ano na temporada 2024/2025, de acordo com a ICCO. Embora também enfrente desafios semelhantes aos de seu vizinho, Gana tem conseguido manter uma produção robusta, consolidando a região da África Ocidental como o coração da indústria do cacau. A colaboração e a concorrência saudável entre esses dois países moldam o mercado global e influenciam diretamente o preço do chocolate que chega aos supermercados.
O Papel da América do Sul e a Ascensão de Novas Estratégias

Embora o topo do ranking seja dominado pela África, a América do Sul tem um papel crucial na história e no futuro do cacau. A região é o lar original da fruta e hoje se destaca por uma abordagem mais moderna e sustentável.
O Equador e a Vantagem da Qualidade
O Equador é o país latino-americano com a maior produção de cacau, figurando em terceiro lugar no ranking mundial. Com cerca de 480 mil toneladas anuais na safra 2024/2025, o país tem demonstrado um crescimento impressionante, com um aumento de aproximadamente 12% em relação à temporada anterior.
O sucesso equatoriano se baseia em uma produção de alta qualidade, focada em cacau fino e de aroma. Essa especialização permite que o país concorra no mercado de nicho, onde a qualidade é mais valorizada do que o volume, conquistando um espaço único na indústria global.
O Brasil e o Retorno às Origens
O Brasil, com sua vasta extensão territorial e biodiversidade, também tem um papel importante. Atualmente na sexta posição, o país produziu cerca de 220 mil toneladas na safra 2024/2025, embora dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostrem uma produção ligeiramente superior (287,8 toneladas) em 2024, com uma pequena redução em relação a 2023.
A produção brasileira está concentrada principalmente nos estados da Bahia e do Pará, que juntos respondem por impressionantes 95% da produção nacional. A história do cacau no Brasil, especialmente na Bahia, é rica e complexa, marcada por ciclos de prosperidade e crises. No entanto, o país tem investido em novas técnicas e na recuperação de áreas de cultivo, mostrando um potencial enorme para o futuro.
Além de Bahia e Pará, outros estados como Espírito Santo, Rondônia, Amazonas e Mato Grosso também contribuem para o cenário nacional. O cultivo no país abrange uma área de 600 mil hectares, demonstrando a escala da operação.
Outros Países Sul-Americanos no Cenário Global
A lista de grandes produtores sul-americanos não para por aí. O Peru, por exemplo, produziu aproximadamente 100 mil toneladas em 2024, aumentando significativamente suas exportações em cerca de 48%. A Colômbia também se mantém relevante, com uma produção de cerca de 73 mil toneladas em 2024, segundo a Federação Nacional de Cacaoteros.
Por fim, a República Dominicana, com uma produção crescente, registrou mais de 40 mil toneladas de janeiro a junho de 2025, de acordo com a Oficina Nacional de Estadística do país. Essa diversidade de produtores na América Latina demonstra a importância contínua da região para a indústria global.
O Ranking dos Maiores Produtores Mundiais de Cacau
Para ter uma visão completa da dinâmica global, veja o ranking dos 10 maiores produtores de cacau, com dados da ICCO e outras entidades:

- Costa do Marfim: 1,85 milhões de toneladas/ano (com desafios na produção).
- Gana: 600 mil toneladas/ano.
- Equador: 480 mil toneladas/ano (crescendo 12% na última temporada).
- Nigéria: 350 mil toneladas/ano.
- Camarões: 320 mil toneladas/ano.
- Brasil: 220 mil toneladas/ano.
- Indonésia: 200 mil toneladas/ano.
- Peru: 100 mil toneladas/ano (aumento considerável nas exportações).
- Colômbia: 73 mil toneladas/ano.
- República Dominicana: Mais de 40 mil toneladas (produção crescente).
As Mudanças Climáticas e o Futuro do Cacau
A produção de cacau vem sofrendo com as mudanças climáticas dos últimos tempos, o que gera instabilidade e aumento de preços. Esta é uma verdade indiscutível que afeta diretamente o setor. As secas prolongadas e as chuvas irregulares têm um impacto devastador nas plantações, diminuindo a colheita e, consequentemente, elevando os preços do chocolate no mercado.
Diante desse cenário, a indústria do cacau tem buscado soluções. Um estudo publicado na revista “Agricultural Systems” em março de 2025 aponta que “nos últimos anos, a região [América do Sul] adotou métodos mais sustentáveis de produção de cacau”. Essas práticas, que incluem o cultivo em sistemas agroflorestais e a otimização do uso da água, são essenciais para garantir a resiliência das plantações e a sustentabilidade da cadeia de produção a longo prazo.
Conclusão: Um Olhar Além da Barra de Chocolate
A jornada do chocolate é um reflexo complexo das relações comerciais, da história agrícola e, cada vez mais, dos desafios ambientais do nosso tempo. Ao descobrir qual é o país que mais produz cacau para chocolate no mundo, percebemos que o sabor de uma barra de chocolate está intrinsecamente ligado à economia e ao clima da Costa do Marfim e de outros produtores.
O Dia Internacional do Chocolate, celebrado em 13 de setembro, nos lembra da importância desse fruto. No entanto, para além da celebração, é crucial entender os desafios que os produtores de cacau enfrentam. O aumento dos preços é apenas a ponta do iceberg de um sistema complexo que precisa de inovação e práticas sustentáveis para prosperar.
A próxima vez que você saborear um pedaço de chocolate, lembre-se da sua origem. Pense nos agricultores da África Ocidental e da América do Sul que trabalham para que possamos desfrutar deste doce prazer. A história de cada barra é uma história de geografia, clima e, acima de tudo, do esforço humano para transformar um fruto simples em um dos alimentos mais amados do mundo.





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